terça-feira, 12 de abril de 2016


Por: Gilberto Marigoni*







Má notícia para pessimistas profissionais e hidrófobos em geral. 

Estamos tendo um surpreendente ascenso da esquerda nos últimos meses. 

É algo espetacular e, à primeira vista, inusitado. 

Diante dos arreganhos da ultradireita nas ruas, da manipulação informativa por parte dos monopólios da mídia e da possibilidade de golpe, as manifestações populares têm crescido exponencialmente em todo o país. 

TUDO E TODOS - Dos estudantes secundaristas às comunidades universitárias, dos trabalhadores sem teto aos sem terra, das centrais sindicais, às associações profissionais, o Brasil está sendo tomado por um vendaval reativo à pregação regressivo-fascista. 

É uma esquerda que tem no centro de suas demandas a questão democrática. Esta se desdobra na luta contra o ajuste fiscal, os projetos de lei lesivos ao funcionamento do Estado e aos trabalhadores, à lei antiterrorismo, ao entreguismo e vários tecéteras. 

Cresce a consciência que é preciso deter o golpe sem apoiar os desmandos do governo petista. É uma separação sofisticada, motivada não apenas pelo avanço da direita, mas pelo fato da administração federal ter se mostrado pequena diante do que se esperava dela. 

DE QUEM ESTAMOS FALANDO? - Que esquerda é essa, que transborda os partidos e entidades? 
À falta de nome melhor, poderíamos denominá-la de "esquerda social". É um bloco que reage ao senso comum - e por isso conservador - dominante. É uma esquerda que disputa hegemonia, num impulso a um só tempo tenso e alegre. Talvez guarde um tanto de pessimismo da razão, mas escancara um formidável otimismo da vontade. 

É uma esquerda não-partidária. Não sou daqueles a exaltar tal falto, mas pode ser o substrato de algo novo em gestação. Não é apenas a institucionalidade geral que está em crise. Uma certa institucionalidade progressista, erigida nas últimas quatro décadas, dá sinais de estar batendo lata. 

POLITIZAÇÃO ACELERADA - O fato é que a conjuntura desses meses tem apresentado o condão de ser extremamente politizadora. Quem é de direita toma consciência das razões pelas quais luta - podem ser pueris, mas têm fundamento - e o mesmo se dá do outro lado. 

É um impulso que mobiliza jovens, velhos, mulheres, homens, gays, índios e outras minorias da imensa maioria dos prejudicados do Brasil. É também uma dinâmica que isola a ultraesquerda purista, cheia de verdades e divorciada das multidões. 

Com tudo isso, podemos perder domingo? 

Sim, podemos. Mas é bom lembrar que o resultado da comissão do golpe, no Congresso, não foi aquele passeio que Cunha e seus figurantes de trem fantasma avaliavam. Uma vitória por 58% - quando são necessários 66% em plenário - não é aquela cocacola para os golpistas. 

Ataques serão redobrados nesta semana. A Lava Jato deve aparecer com algo cheio de efeitos especiais até sexta. Veja, Globo, Folha, Estadão et caterva despejarão aquela gosma desinformativa de norte a sul até o final de semana. 

Ganhando ou perdendo, essa esquerda social - que não é nova e que botou muito velho para se manifestar - entrou com alarde na cena política. 

É a grande novidade desse outono esquisitão e que deve ficar no ar por muitas estações. 



* Gilberto Maringoni de Oliveira  é  jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São PauloÉ ativista político desde 1977. Atuou no movimento estudantil, no final dos anos 1970, tempos finais da ditadura. Foi dirigente do PT, no qual militou entre 1988 e 2005, desligando-se do partido por divergências com seus rumos. Desde então é filiado ao PSOL, chegando a ser membro de sua direção nacional. Maringoni foi candidato a governador do Estado de São Paulo nas eleições de 2014 pelo PSOL.

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