sábado, 4 de abril de 2015


PL 4330/04 está na pauta da Câmara na próxima terça-feira, 7 de abril. Várias categorias virão à Brasília pressionar para que projeto seja rejeitado.

Por: Leonor Costa do PsoL nacional



  
Na próxima semana, trabalhadores de várias categorias, organizados em diversas entidades e centrais sindicais, virão à Brasília tentar barrar mais um ataque que se avizinha contra a classe trabalhadora brasileira. Com a inclusão na pauta do plenário da Câmara do PL 4330/2004, que regulamenta a terceirização no setor privado, o país corre o risco de ter definitivamente legalizada uma antiga modalidade de precarização das relações de trabalho. E o presidente da Casa, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), já avisou que pretende avançar em mais essa pauta conservadora. Portanto, considerando a configuração do atual Congresso Nacional, as organizações sindicais dos trabalhadores enfrentarão, nos próximos dias, um grande desafio na tentativa de impedir mais esse retrocesso.

O PL “dispõe sobre o contrato de prestação de serviço a terceiros e as relações de trabalho dele decorrentes”. No parágrafo 1º, do Artigo 2º, o projeto afirma que a empresa prestadora de serviços contrata e remunera o trabalho realizado por seus empregados, ou subcontrata outra empresa para realização desses serviços. Mais à frente, estabelece que tal contratação “não configura vínculo empregatício entre a empresa contratante e os trabalhadores ou sócios das empresas prestadoras de serviços, qualquer que seja o seu ramo”. Na prática, a proposta permite a quarteirização (quando uma empresa contratada para prestar um determinado serviço terceiriza a força de trabalho  sem vínculo com a mesma) e o aumento da precarização das relações de trabalho.

Em franca campanha contra a aprovação do parecer do relator do PL, deputado Arthur Maia (SD/BA), o secretário-geral da Intersindical – Central da Classe Trabalhadora e dirigente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Edson Carneiro Índio, explica já está confirmada a vinda à Brasília, na próxima semana, de delegações de várias categorias, entre as quais bancários, químicos, servidores públicos das três esferas, metalúrgicos, professores, construção civil e rural. Na segunda-feira (06), haverá, em Brasília, uma reunião do Fórum Nacional dos Trabalhadores Ameaçados pela Terceirização, para definir como será a mobilização no dia 7 de abril, quando está prevista a votação do PL no plenário da Câmara. Índio explica, ainda, que o Fórum é formado por diversas entidades, entre sindicatos, federações, centrais sindicais, a Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho) e a ANPT (Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho).

O dirigente da Intersindical ressalta que além da pressão em Brasília, no dia 7 haverá paralisação e manifestações públicas de algumas categorias. “Queremos a derrubada do PL em sua integralidade. O substitutivo do relator não nos contempla, porque não aceitamos o mérito do projeto”, enfatiza Índio, se referindo ao relatório de Arthur Maia. Segundo ele, algumas centrais sindicais, como UGT, Nova Central e Força Sindical, concordaram com as mudanças feitas no substitutivo, que garante a representatividade dos trabalhadores terceirizados pelo sindicato da categoria preponderante. “Essa mudança não resolve o problema central que está no projeto”, pontua.

Atualmente, 25% dos trabalhadores com carteira assinada são terceirizados. “Esse número só não é maior porque as empresas não têm segurança jurídica para ampliar a terceirização, que em muitos casos é ilegal. Com a aprovação do PL 4330, o que hoje é fraude do contrato de trabalho será legalizado”, ressalta o secretário-geral da Intersindical.

Ainda segundo ele, os trabalhadores terceirizados recebem salários inferiores e também acabam não tendo os mesmos direitos que os trabalhadores contratados diretamente pela empresa. “Possuem jornadas de trabalho maiores, não têm as mesmas garantias dos Acordos Coletivos, são as maiores vítimas de adoecimento no trabalho e da rotatividade no emprego. Além disso, os trabalhadores terceirizados dificilmente conseguem ter organização sindical forte, pois o processo de terceirização fragmenta e fragiliza a capacidade de organização” (leia mais no artigo Não ao PL 4330/04:Barrar a terceirização e a precarização do trabalho).

 Também em campanha para barrar a regulamentação da terceirização, a Anamatra tem manifestado sua preocupação com a possível aprovação do PL 4330/04. Na avaliação da entidade de magistrados do trabalho, a matéria precariza as relações de trabalho, entendendo como precarização a perda de qualidade dos postos de trabalho. "A questão central é a terceirização ser vista como fórmula de economia com a mão de obra. Os trabalhadores, porém, não podem ser vistos como mão de obra ou como simples mercadoria. São pessoas; pessoas trabalhadoras detentoras dos direitos fundamentais previstos na Constituição", disse a secretária-geral da Anamatra, Noemia Porto, em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara.

Na ocasião, Noemia Porto disse que a entidade defende uma agenda de trabalho decente, numa lógica similar à que tem sido defendida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Para a Anamatra, "trabalhador é um conceito abrangente, que engloba todas as pessoas que necessitam viver do seu trabalho, e não apenas os trabalhadores empregados. Preocupa-nos a temática geral do valor do trabalho humano".


Números, segundo o MPT

O número da terceirização no país é grande e tem preocupado o Ministério Público do Trabalho. Segundo dados do MPT, atualmente existem cerca de 8 milhões de trabalhadores terceirizados e 31 mil empresas terceirizadas. Os setores que mais terceirizam são os da saúde, da construção civil e do sistema bancário. Entre os problemas decorrentes da terceirização estão o aumento do número de acidentes de trabalho e a dificuldade de o empregado conseguir pleitear seus direitos na Justiça.

“Os trabalhadores sofrem uma ofensiva do empresariado, que tem seus representantes no poder legislativo”, disse o procurador-geral do Trabalho Luís Antônio Camargo de Melo, durante o “Seminário sobre terceirização e precarização nas relações de trabalho”, realizado ainda em dezembro de 2012. Na ocasião, o procurador citou o PL 4330/04 como algumas das propostas que tramitam no Congresso Nacional que visam à retirada de direitos garantidos na Constituição Federal.


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