sexta-feira, 17 de abril de 2015


Por: Elenilton da Cunha Galvão




Inicialmente gostaria de começar essa pequena explanação com uma breve explicação, a microrregião de Catalão possui uma população estimada em 165.101 habitantes e está dividida em onze municípios [Catalão, Ouvidor, Goiandira, Três Ranchos, Anhanguera, Ipameri, Corumbaíba, Campo Alegre, Cumari, Davinópolis e Nova Aurora], destes, Catalão como o mais populoso acaba convergindo os interesses políticos, sociais e econômicos da região. Ponto.

Neste quinhão de Goiás as atividades agro-industriais são os carros chefes para os vínculos empregatícios de nosso povo, mas outros setores como confecção e serviços tem certo peso. Outro ponto.

Atualmente tramita no Congresso o PL 4330/04 redigido inicialmente pelo deputado Sandro Mabel (PMDB-GO) e regulamenta a terceirização no Brasil, este projeto depois foi trocado pelo substitutivo de autoria do deputado Roberto Santiago (PSD-SP) e, posteriormente, pelo substitutivo do deputado Arthur Maia (SOLIDARIEDADE-BA).  O atual texto, se aprovado como está, traz prejuízos enormes à classe trabalhadora e na prática se transforma em um dos maiores retrocessos trabalhistas de nossa história, pois se trata de um projeto de Lei que faz cair por terra a súmula 331 do TST que coloca limites à terceirização.  No enunciado 331 está, por exemplo, a distinção entre área meio e área fim, o que impede em tese que a terceirização seja estendida a todos os setores das empresas. No substitutivo não existe esta diferenciação, o que na prática permitirá a terceirização de todas as funções. Com a aprovação do projeto, fica ameaçada a existência de todas as categorias formais.

Sob ótica jurídica e segundo o jurista José Roberto Freire Pimenta, ministro do TST, de  30 a 40% dos processos que chegam à Justiça do Trabalho tem alguma relação com empreses terceirizadas, um número assustador, sem dúvida, e além do mais se considerarmos que o número de reclamações judiciais impetradas na Justiça do Trabalho por ex-funcionários contratados por grandes empresas diminuiu em 21% nos últimos nove anos e as ações movidas por empregados terceirizados que pedem a responsabilização subsidiária da empresa tomadora do serviço cresceu 71% no mesmo período, esse quadro que só tende a piorar, agravar-se-á infinitamente caso o PL 4330 passe pelo Congresso.

Se trouxermos essa perspectiva para Ouvidor o impacto será brutal, boa parte [não conseguimos dados oficiais] da mão de obra do nosso município está empregada na indústria, essa mesma indústria que será beneficiada instantaneamente se o projeto de Arthur Maia for aprovado. O índice de empresas terceiras prestadores de serviço para as grandes empresas da nossa região é altíssimo e isso tem um impacto direto nos processos trabalhistas da comarca de Catalão que no ano de 2014 chegaram ao absurdo número de 22.322 processos (cerca de 19.000 resolvidos) no TRT, metade destes vinculados à empresas terceirizadas.

Se precarizamos o trabalho em suas condições aumentamos os casos de assédio moral, acidentes, irresponsabilidade patronal, salários baixos, corte de benefícios e etc. Uma medida como essa empurrará Ouvidor para o fundo de seus já baixos índices de desenvolvimento humano e empurrará nosso povo a uma situação de fragilidade e miséria comuns em cidades com o perfil da nossa.

Só para que vocês tenham um vislumbre sobre essa deterioração social, o IDH (Índice de desenvolvimento Humano), ainda que altamente questionável, usando como base o Atlas do Desenvolvimento Humano gestado pelo PNDU (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e medido no não tão longínquo ano de 2000 em Ouvidor,  apresentava um índice médio de 0,785, um índice alto segundo a ONU [alto é o que gira entre 0,700 e 0,799], mas mesmo assim longe do ideal pela quantidade absurda de riqueza que Ouvidor gera, riqueza que poderia nos colocar como uma cidade altamente desenvolvida e não uma sombra canhestra do desenvolvimento alheio. 

Por este motivo vamos considerar alguns pontos:

- Ouvidor não se destaca em nenhum dos critérios usados para medir o IDH, ou seja, nem na longevidade de seu povo, nem na renda e tampouco na educação [apesar de ser a única cidade da microrregião a oferecer bolsas de estudo para seus habitantes, mas que  ainda está atrás de cidades como Anhanguera e Catalão em estatísticas educacionais] merece destaque no nosso município.

- O índice de desenvolvimento de Ouvidor retraiu, isso mesmo, retraiu de 2000 para cá, hoje nossa média está em 0,747, ou seja Ouvidor é prova de que sim, pode-se piorar quando um quadro politico que não possui agenda de inclusão de seu povo, que não preza o desenvolvimento social comanda uma cidade por longos anos. Caso por exemplo das mal fadadas experiências (ingerências) de gestão do PSDB e de seus aliados no município.

- As demandas de mão de obra para trabalhadores formais estão restritas a escassos polos de emprego que não se preocupam no beneficio das pessoas no lugar de onde estão extraindo as riquezas, as mineradoras são exemplo notório deste fato. Não se enganem, a Anglo American possui uma renda líquida anual de 6 bilhões de dólares, segundo dados da própria, e desse montante parte considerável é emanada do rico solo ouvidorense, NÃO DE CATALÃO, que detém as lavras que fazem especuladores, acionistas e empresários estrangeiros terem graúdas contas bancárias enquanto Ouvidor não possui sequer um sistema de saúde verdadeiramente amplo.

- Apesar de complicada comparação, e nem é o escopo desta análise desatar comparações baseadas no achismo, o índice de mão de obra empregada  em Catalão nas mineradoras que exploram o solo ouvidorense é maior que os empregados de Ouvidor proporcionalmente, neste caso não chega a ser cômico, é trágico mesmo, pois na prática nem mesmo os habitantes daqui se beneficiam.

- Apesar de toda a balela de que as empresas querem “ouvir” as cidades para implementar projetos,  tudo isso soa como uma piada de mau gosto, precisamos além de projetos, um aumento exponencial na oferta de mão de obra direta (não terceirizada) e um maciço investimento na infraestrutura municipal e de serviços para sanar um mal desde muito colocado, o espólio da nossa riqueza sem retorno algum senão a destruição de mananciais, do solo, dos cursos d’água, da atmosfera e, além de tudo, o aumento dos casos de câncer graças ao rejeito radioativo da extração do Nióbio.

- Ouvidor só possui índices de pobreza menores que Davinópolis, Nova Aurora e Cumari na microrregião de Catalão, ou seja, nosso município é um dos que mais abrigam pessoas pobres, nenhuma surpresa se levarmos em consideração que a renda média per capita gira em média nos R$ 710,00 [em Catalão a média é de  R$ 959,00]. Onde está todo o dinheiro gerado pela atividade mineradora? Ouvidor tem a segunda maior taxa de desigualdade social da região, só não somos mais desiguais que Davinópolis, oras!!  Todos sabem, Ouvidor gerou acumulo de capital nas mãos de poucos, pouquíssimos beneficiários, afinal o PIB per capita da em Ouvidor é de R$ 11.446,00, um dos maiores do país (!!!).

Implementar terceirizações afetará de forma acintosa nossa cidade, vejam que Mitsubishi, Anglo American e John Deere, industrias de forte tendência à terceirização (e que não hesitarão em aplicar essa medida em suas produções) se beneficiarão imensamente com esse projeto de lei, claro, também consideremos a Sakura Nakaya Alimentos LTDA que já oferece um emprego cuja as qualidades nem conseguimos listar no momento, piorará ainda mais a situação de seus trabalhadores caso uma medida como esta seja utilizada por seus gestores, isso implicará diretamente no já gravoso índice de desigualdade social do nosso município. 

Considerando que nossa região possui a maioria das pessoas entre 19 e 29 anos, ou seja, em idade funcional para o trabalho, isso afetará invariavelmente a dignidade do nosso povo, o valor social do trabalho e empurrará para baixo nosso surpreendente quadro de desigualdade social. MAIS. Boa parcela de nossa população está se preparando para entrar no mercado de trabalho, e a estes como será?

Ouvidor, vamos nos unir para mudarmos nosso futuro.





---   Outro ponto: Terceirizar afetará o poder público também, mas para evitar as delongas, deixarei para abordar esse assunto em uma análise posterior.





Referências:


·         http://www.geografiaememoria.ig.ufu.br/downloads/Beatriz_Ribeiro_Soares_CARACTERIZACAO_SOCIO_ECONOMICA_E_ESPACIAL_DAS_PEQUENAS.pdf

·         http://www.seer.ufu.br/index.php/horizontecientifico/article/viewFile/4101/3051

·         http://www.andes.org.br/andes/print-ultimas-noticias.andes?id=7302

·         http://ouvidor.go.gov.br/site/painel/upload/temp/80bc1670d701d59ca9f78b4850f712d7.pdf

·         http://www.trt18.jus.br/portal/arquivos/2012/03/13_tribunal_anual_2014.pdf

·         http://www.tgestiona.com.br/portaltg/imagens/NOVO%20PORTAL%20TG/Mat%C3%A9ria%20- %20A%C3%A7%C3%A3o%20por%20terceiriza%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A9%20crescente.pdf

·         http://trt-4.jusbrasil.com.br/noticias/115918826/para-ministro-do-tst-a-terceirizacao-aumentou-a-demanda-de-processos-trabalhista

·         http://economia.terra.com.br/infograficos/renda/

·         http://w3.ufsm.br/gpet/engrup/iengrup/Pdf/artigo_n%E1gela.pdf

         http://www.geografiaememoria.ig.ufu.br/downloads/Beatriz_Ribeiro_Soares_CARACTERIZACAO_SOCIO_ECONOMICA_E_ESPACIAL_DAS_PEQUENAS.pdf

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