sábado, 25 de abril de 2015


Por: Elenilton da Cunha Galvão





O filósofo Slavoj Žižek explica de forma clara porque podemos afirmar que as pessoas que pedem "intervenção militar" Brasil afora são fascistas, aliás, não só elas, qualquer conservador defensor da moral, dos bons costumes e da família tradicional que vive bradando discursos enfurecidos contra o Bolsa Família, contra nordestinos, sem terras, camponeses, pobres, mulheres, estrangeiros e depois dizem que o partido "X" ou “Y” criou a luta de classes, o "ódio" (que eles pregam fervorosamente, claro!) e reproduzem os mesmos discursos e o mesmo ideário da "eliminação da diferença" através do expurgo, castração química, muros, retiradas de direitos e etc, o é. Acompanhe a explicação abaixo:

"Imagine um cidadão comum alemão no final dos anos 20 e começo dos 30. A situação dele é, num modo abstrato a mesma de uma criança pequena, ele está perplexo. A autoridade social, a ordem simbólica, está dizendo a ele: você é um trabalhador alemão, banqueiro, seja lá o que for, mas nada está funcionando. O que a sociedade quer dele? Por que está tudo dando errado? O modo como ele percebe a situação é que os jornais mentem para ele, ele perdeu o trabalho por causa da inflação. Ele perdeu todo o seu dinheiro do banco, sua moral vai abaixo e etc. Então, qual o significado de tudo isto?

O sonho original fascista, claro, como o sonho de toda ideologia é ter um bolo e comê-lo. Como foi frequentemente mostrado, o fascismo é, no que tem de mais elementar, uma REVOLUÇÃO CONSERVADORA. Revolução; desenvolvimento econômico, indústria moderna, sim, mas uma revolução que iria no fim das contas manter ou até reassegurar a hierarquia tradicional da sociedade. Uma sociedade que é moderna, eficiente, mas ao mesmo tempo controlada pelos valores hierárquicos sem classe ou outros antagonismos.

Mas agora, eles tem um problema, os fascistas. Antagonismos, lutas de classe e outros "perigos" são inerentes ao capitalismo. Modernização, industrialização, como sabemos da história do capitalismo significam desintegração das antigas relações estáveis. Significam conflitos sociais. Instabilidade é o modo como o capitalismo funciona. Então como resolver este problema? É fácil. Você precisa criar uma narrativa ideológica, que explique porque as coisas deram errado na sociedade, não como resultado das tensões inerentes ao desenvolvimento desta sociedade mas como resultado de um intruso que vem de fora. Tudo ia bem até que os judeus penetraram em nosso corpo social, a maneira de curar nosso corpo social é eliminando os judeus.

[...] creio que duas ou três décadas atrás quando o primeiro ministro do Reino Unido era John Major havia um tipo de campanha ideológica para o retorno da moralidade e por aí vai. Todos os males da sociedade eram personificados na narrativa conservadora na figura da mãe solteira desempregada. Tipo, existe violência nos nossos subúrbios? É claro, pois mães solteiras desempregadas não tem como cuidar das suas crianças ou educa-las adequadamente e etc. Nós temos um problema orçamentário, o dinheiro não é suficiente, é claro, porque temos que cuidar das "mães não casadas", as mães solteiras e etc. É um edifício ideológico precisa-se de uma imagem pseudoconcreta como essa para fixar na imaginação, e esta imagem pode nos mobilizar."



O Guia da Ideologia do Ódio from Livio Maynard on Vimeo.

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